A Revolta de 25 de Abril - Angola
Este
golpe, normalmente conhecido pelos portugueses como 25 de Abril, foi conduzido por um
movimento militar, o Movimento das Forças Armadas (MFA), composto por oficiais
intermédios da hierarquia militar, na sua maior parte capitães que tinham participado na Guerra Colonial e que foram apoiados por oficiais
milicianos, estudantes recrutados, muitos deles universitários. Este movimento
nasceu por volta de 1973, baseado inicialmente
em reivindicações corporativistas como a luta pelo prestígio das forças
armadas, acabando por se estender ao regime político em vigor. Sem apoios
militares, e com a adesão em massa da população ao golpe de estado, a
resistência do regime foi praticamente inexistente, registando-se apenas quatro
mortos em Lisboa pelas balas da DGS.
Na
sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, foi instaurada em Portugal uma ditadura militar, que culminaria
na eleição presidencial de Óscar Carmona, em 1928. No mandato
presidencial de Carmona, no que então se designou por "Ditadura Nacional",
foi elaborada a Constituição de 1933, instituindo um novo
regime autoritário de inspiração fascista,
auto-denominando-se Estado Novo. Oliveira Salazar passou a controlar o país através do
partido único designado "União Nacional",
não mais abandonando o poder até 1968, quando este lhe foi
retirado por incapacidade, na sequência de uma queda de uma cadeira em que
sofreu lesões cerebrais. Foi substituído por Marcelo Caetano , que dirigiu o país até ser deposto
no 25 de Abril de 1974. A chamada Primavera Marcelista seria sinónimo de ditadura branda.
No
início da década de setenta mantinha-se vivo o ideário salazarista. Continuavam
os ideólogos do regime a alimentar o mito do «orgulhosamente sós», coisa que
todos entendiam, num país periférico e pequenino, marcado pelo isolamento
rural: estar ali e ter-se orgulho nisso eram valores, algo merecedor de
respeito. Mesmo em plena Primavera Marcelista, Marcelo Caetano,
que sucedeu a Salazar no início da década (em 1970, ano da morte do ditador),
não destoa. Sentindo o mesmo, age a seu modo, governa em isolamento, faz o que
pode, mas um dia virá em que já nada pode fazer.
No
dia 26 de abril, forma-se a Junta de Salvação Nacional, constituída
por militares, que dará início a um governo de transição. O essencial do
programa do MFA é, em síntese, resumido no programa dos três D:Democratizar, Descolonizar, Desenvolver. Entre as medidas
imediatas da revolução conta-se a extinção da polícia política (PIDE/DGS) e da
Censura. Os sindicatos livres e os partidos são legalizados. No dia seguinte, a
26 de abril, são libertados os presos políticos da Prisão de Caxias e de Peniche.
Os líderes políticos da oposição no exílio voltam ao país nos dias seguintes.
Passada uma semana, o 1.º de Maio é
celebrado em plena liberdade nas ruas, pela primeira vez em muitos anos. Em Lisboa junta-se cerca de um milhão de
pessoas.
Forma-se
o I Governo Constitucional de Portugal,
chefiado por Mário Soares (23 de setembro de 1976). Ramalho Eanes,
militar em Angola no 25 de abril, o sisudo oficial que adere ao MFA fora de horas, o extemporâneo general
que na televisão se esconde por trás de uns óculos de sol, ganha as
presidenciais de 27 de junho de 1976. Segue-se o fim do PREC e um período de estabilização
política. Eanes impõe-se como
chefe militar e Mário Soares, desvinculado dos fundamentos marxistas do ideário socialista,
proclama as virtudes do pluralismo,
a inevitabilidade do liberalismo,
e lidera, dominando o partido e o país. Com o seu talento, ergue a voz e faz-se
ouvir: com ele, a democracia em Portugal está garantida e o país livre da
"ameaça comunista". Com a sua habitual persistência, mantendo durante
anos o mesmo discurso sempre que fala, acaba por ganhar terreno e isolar a
esquerda.
Conclui
que a Revolução de 25 de Abril de 1974 não chegou logo a Angola. Longe disso.
Demorou mesmo muito tempo a chegar e sempre com muitas resistências e
contradições. Como exemplo deste facto, refira-se que a libertação dos presos
políticos do campo de concentração de São Nicolau, no sul do território, só
ocorreu em 13 de Maio. Muitas outras resistências e contradições houve em
Angola no imediato pós 25 de Abril, ou não fizesse parte da Junta de Salvação
Nacional um homem que tinha servido fielmente o colonialismo como
governador-geral de Angola, o general Silvino Silvério Marques. Logo no mês de Maio,
o general S. S. Marques voltou a ocupar o mesmo cargo, com resultados
vergonhosos. Durante este seu segundo governo, que durou até Julho de 1974, a
situação em Luanda deteriorou-se de forma muito grave, com repetidos e
insistentes ataques feitos contra os bairros populares da cidade (chamados musseques)
por parte de grupos de colonos extremistas, do que resultaram numerosos mortos
e feridos, sem que alguém tomasse medidas para pôr cobro a tal situação.
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