INTRODUÇÃO
Com base o tema o Império Songhai, foi um estado
pré-colonial africano e grande civilização ocidental, em Mali. Do início dos século
XV até o final do século 16, Songhai foi um dos maiores impérios africanos da
história. Este império tinha o mesmo nome de seu grupo étnico líder, os Songhai.
Sua capital era a cidade de Gao, onde uma pequeno
estado Songhai já existia desde o século XI. Sua base de poder era sobre a
volta do rio Níger nos dias atuais Níger e Burkina Faso.
Antes do Império Songhai, a região tinha sido dominada pelo Império Mali,
uma das civilizações mais ricas da história do mundo. Mali tornou-se famoso
devido à sua imensa riqueza obtida através do comércio com o mundo árabe, e os
lendários hajj de Mansa Musa.
No início do século XV, o Império do Mali começou a declinar. As disputas pela
sucessão enfraqueceram a coroa e muitos afastaram-se. Os Songhai foram um
deles, fazendo a cidade proeminente de Gao a sua nova capital.
DESENVOLVIMENTO
Império Songhai
A cidade do Songhai originou-se na região de Dendi, do
noroeste de Nigéria e o rio expandido chega gradualmente
de Níger,
no século VIII. No ano 800, estabeleceram uma cidade do mercado florescendo em Gao. Aceitaram o Islão em torno do ano 1000. Por diversos
séculos, dominaram os estados adjacentes pequenos, quando foram controlados ao
mesmo tempo pelo império poderoso de Mali ao oeste.
O presente estudo explana o
império Songhai desde a sua formação até a sua decadência. A partir do século
XI, os reis que viviam em Kukia estabeleceram-se em Gao e converteram-se ao
islamismo, ainda que a maior parte dos súditos permanecesse pagã até meados do
século XV. No século XI, este reino estendia-se ao longo do rio (de Tombuctu a
Niamey), passando em finais do século XIII a ser dominado pelo Império do Mali.
No século XV, o declínio deste império permitiu um ressurgir deste reino, sendo
pilhada a capital do Mali em 1400 pelo rei de Kukia, Ma Dogo, permitindo, no
final do século XV, que o novo reino de Songhai conhecesse um grande
desenvolvimento levado a cabo pelos reis Sonni Ali (1464) e por Ali Ber (1492).
Pouco adepto do islamismo, Ali Ber perseguiu os Peules e os Tauregues para
defender a civilização dos negros africanos contra os estrangeiros. Apoderou-se
de Tombuctu, Djenné e da região dos Lagos, controlando as minas auríferas do
Bito e a navegabilidade do Níger. Morreu em combate, sendo seu sucessor um de
seus generais, Mohammed Touré (1493-1528), fundador da dinastia mulçumana dos
Askias, converteu, desta maneira, o reino Songhai ao islamismo. Foi durante o
seu reinado que o império Songhai alcançou seu apogeu. Em 1591, este reino
acabou por desaparecer nas mãos do sultão de Marrocos Ahmed el-Mansur que se
instalou em Tobuctu e o aniquilou por completo.
Ao fim de longa evolução de cerca de oito séculos, os
Songhai, estabelecidos nas duas margens do médio Níger, erigiram um poderoso
Estado e unificaram grande parte do Sudão, permitindo assim o desabrochar de
brilhante civilização, em gestação durante todo esse tempo. Para maior clareza,
consideraremos dois grandes períodos desta evolução, tentando distinguir seus
principais aspectos, na medida em que seja possível discerni-los nos dois
Ta'rikh de Tombuctu 1, nas fontes árabes e europeias e nas tradições songhai.
O reino de Gao do século XII ao advento de Sunni 'Ali Der em
1464
Conhece-se mal a história dos Songhai anterior ao reinado de Sunní 'Ali Ber (1464-1492). As raras fontes árabes sobre o período mais suscitam problemas do que informam. As tradições orais dão apenas um quadro imperfeito da realidade desses tempos antigos. O estudo desse período será, por- tanto, crítico; levantará mais questões do que as resolverá, e as soluções pro- postas servirão apenas como hipóteses de pesquisa.
Conhece-se mal a história dos Songhai anterior ao reinado de Sunní 'Ali Ber (1464-1492). As raras fontes árabes sobre o período mais suscitam problemas do que informam. As tradições orais dão apenas um quadro imperfeito da realidade desses tempos antigos. O estudo desse período será, por- tanto, crítico; levantará mais questões do que as resolverá, e as soluções pro- postas servirão apenas como hipóteses de pesquisa.
O reino de Gao no
século XII
Por sua posição geográfica às margens do Níger, na zona
fronteiriça entre o Sudão e o Sahel, Gao tornou-se, no século XII, a capital do
jovem Estado songhai, acabando por eclipsar a antiga cidade de Kükya (ou Kugha,
conforme os autores árabes). O comércio do sal de Tawtek (local não
identificado), a passagem por Tadmekka de mercadorias provenientes da Líbia, do
Egito, da Ifrikya, as caravanas do Tuat e de lugares mais distantes do Magreb
ocidental transformaram Gao num grande mercado cosmopolita.
As fontes árabes, no entanto, não são muito precisas quanto
ao nome da cidade. Segundo al-Bakri, que transcreve "Kaw-Kaw" 2, a
cidade situava-se no Níger. AI-Idrisi distingue a cidade de Kügha, "bem
populosa", cercada de muros 3 na margem norte, a vinte dias de marcha de
Kaw-Kaw (Gao-Gao) ao norte. O que se deve sublinhar é a existência das duas
cidades, Gao e Kükya, no século XII.
O reino que se estendia sobre as duas margens do Níger, de
Dendi a Gao, era dirigido pelos Dia ou Za, provavelmente uma fração dos Songhai
miscigenada com berberes 4. De qualquer modo, no século XI o Dia tinha o título
songhai de Kanta ou Kanda. Evento de importância capital foi a conversão do Dia
kossoy ao Islã em 1019; o exemplo não parece ter sido seguido pelos Songhai,
que por muito tempo ainda permaneceram fiéis às suas crenças e. Práticas
religiosas tradicionais.
Estelas funerárias encontradas em Gao-Sané mencionam nomes muçulmanos diferentes daqueles dos Ta'rikh. Por várias razões, elas parecem ter sido importadas.
A dominação Manden (Mandingo) e a Dinastia dos Sunni: séculos XIII a XV
Provavelmente entre 1285 e 1300 5, exércitos manden (mandingo) conquistaram o reino de Gao. Entre 1324 e 1325 aproximadamente, o mansa Kanku Miisã, voltando de peregrinação, construiu uma mesquitaem Gao. Sob
a direção dos farin ou governadores, os Manden organizaram a região da curva do
Níger e encorajaram seu desenvolvimento econômico. Gao tornou-se, então, grande
centro comercial e uma das cidades mais belas do Sudão 6.
Estelas funerárias encontradas em Gao-Sané mencionam nomes muçulmanos diferentes daqueles dos Ta'rikh. Por várias razões, elas parecem ter sido importadas.
A dominação Manden (Mandingo) e a Dinastia dos Sunni: séculos XIII a XV
Provavelmente entre 1285 e 1300 5, exércitos manden (mandingo) conquistaram o reino de Gao. Entre 1324 e 1325 aproximadamente, o mansa Kanku Miisã, voltando de peregrinação, construiu uma mesquita
A dominação manden não foi contínua. O Dia de Gao era, na
realidade, um tributário que aproveitou as dificuldades do Mali para se
emancipar. Em todo caso, parece que o final do século XIV marcou o término da
dominação manden sobre o Gao. Uma nova dinastia - a dos Sunni - fundada por
'Ali Kolon no século XIII, tornou-se independente e expulsou os Manden.
Segundo Boubou Rama 7, esta dinastia, cuja origem ainda é
objeto de discussão, teria vindo de Kuikya e expulsado os Manden de Gao. Os
Sunní, também conhecidos como Sii ou Chi, eram guerreiros. Os três últimos
representantes da linhagem deixaram Gao e levaram a guerra para leste, na
direção da rica região de Macina e do Império do Mali. Sunni Madawu, pai de
Sunní 'Ali", empreendeu grande ataque contra Niani, capital do Império
Manden, saqueando-a e tomando 24 tribos de escravos pertencentes ao mansa. Seu
sucessor Sunni Solimão Daama, por sua vez, invadiu e destruiu Nema (Mema), centro
da província soninke do Império do Mali, arrebatando grande butim. As guerras
aumentaram os meios de ação da monarquia. O rei de Gao tornou-se o verdadeiro
senhor da curva do Níger e com a ascensão de Sunni 'Ali em 1464, a dinastia
atingiu o apogeu.
Sunni 'Ali Ber mudou os destinos do reino de Gao. Abandonou a
política de pilhagem adotada pelos predecessores, substituindo-a pela conquista
territorial 8. Para tal, contou com um exército experiente e bem estruturado,
chefiado por homens competentes: uma flotilha no Níger comandada pelo hi koy
(ministro do rio e da esquadra), uma infantaria que aumentava continuamente com
a incorporação dos guerreiros vencidos e, sobretudo, uma cavalaria que, por sua
mobilidade, foi a ponta-de-lança de suas conquistas. Durante o reinado, Sunni
'Ali Ber percorreu, à frente dos cavaleiros, o Sudão nigeriano em todos os
sentidos, desconcertando seus adversários pela surpresa e rapidez, e impondo
sua autoridade pela violência e pelo medo. Seus contemporâneos julgavam-no invencível,
a encarnação mesmo do espírito da guerra. Conhecido como grande mágico, era
considerado um homem extraordinário, carismático, tanto que o povo conferiu-lhe
o título de daali 9.
Como os predecessores, Sunnl 'Ali foi atraído pela rica
região ocidental, pelas cidades nigerianas e pelo delta central do Níger.
Conquistou sucessivamente Djenné, parte da região de Macina, onde abateu grande
número de Fulbe (Peul ou Fulani), e, o mais importante, Tombuctu (1468). Atacou
os tuaregues, rechaçando-os para o Sahel setentrional; no sul, empreendeu
várias expedições contra os Dogon, os Mossi e os Bariba. Em 1483, nas cercanias
de Djenné, venceu o rei mossi Nasere I, que voltava de Walata trazendo rico
butim. Desta forma, Sunni 'Ali acabou com a ameaça dos Mossi no vale do Níger.
Em 1492, ano de sua morte acidental, ele dirigia um grande império que,
centrado no Níger, estendia-se desde a região de Dendi até a de Macina.
Organizou-o segundo o modelo manden. Criou novas províncias, confiadas a
soberanos que se intitulavam fari ou farma (manden) e koy ou mondzo (songhai)
10. Nomeou um cádi para Tombuctu e provavelmente para outras cidades
muçulmanas. Todos esses agentes do leste estavam diretamente subordinados a
Sunni; desta forma, o Estado patriarcal e consuetudinário de Gao tornou-se um
Estado centralizado que controlava todas as regiões do Níger. Sunni 'Ali
favoreceu o desenvolvimento econômico do jovem império. Se, por um fado, falhou
na escavação de um canal unindo o Níger a Walata, por outro, construiu diques
no vale do rio e incentivou a agricultura.
Política religiosa
Sunni 'Ali Ber enfrentou grandes dificuldades junto à
aristocracia muçulmana, principalmente em Tombuctu. Dois
séculos mais tarde, os ulemás desta cidade descrevê-Io-iam à posteridade como
um soberano cruel, tirânico e libertino; hoje já está reabilitado 11. Os
motivos de sua oposição aos ulemás eram tanto políticos quanto ideológicos.
Tendo sido educado no Faru (Sokoto), terra de sua mãe, nunca foi bom muçulmano,
pois jamais abandonou os cultos tradicionais songhai. Os ulemás criticavam-no
constantemente e muitos deles aliaram-se aos tuaregues de Akil Ak Melawl,
contra os quais Sunni lutava. Acima de tudo, o imperador simbolizava a cultura
tradicional songhai diante de forças novas: o Islã e as cidades.
A Dinastia dos Askiya (1492-1592)
A Dinastia dos Askiya (1492-1592)
Askíya Muhammad I,
o Syllanke 12
A morte de Sunni 'Ali provocou uma guerra civil. Sunni Baare
recusou-se a se converter ao Islã. Um partido muçulmano, dirigido pelo
hombori-loi Muhammad e seu irmão 'Umar Komdiãgho, revoltou-se contra o novo
sunni e o derrotou em Anfao, na região de Gao. Muhammad Turé ou Sylla
apossou-se do poder soberano com o título de askiya, fundando, assim, uma
dinastia muçulmana.
O Askiya Muhammad era de origem soninke, do clã dos Turé ou Sylla 13, provenientes do Takfür. Apesar de iletrado, era muçulmano fervoroso, homem equilibrado e moderado, além de político sagaz. Apoiou-se sobre as novas forças para expandir e consolidar o império fundado por Sunni 'Ali Ber; sua vitória foi a do Islã. O início de seu reinado foi marcado não tanto pelas conquistas, mas pela peregrinação que empreendeu a Meca.
O Askiya Muhammad era de origem soninke, do clã dos Turé ou Sylla 13, provenientes do Takfür. Apesar de iletrado, era muçulmano fervoroso, homem equilibrado e moderado, além de político sagaz. Apoiou-se sobre as novas forças para expandir e consolidar o império fundado por Sunni 'Ali Ber; sua vitória foi a do Islã. O início de seu reinado foi marcado não tanto pelas conquistas, mas pela peregrinação que empreendeu a Meca.
Em 1496-1497, por motivos religiosos e políticos, o novo
soberano visitou os lugares santos do Islã. Fez-se acompanhar de um exército de
800 cavaleiros e de numerosos ulemás, levando uma soma de cerca de 300 000
dinares para as despesas. No Cairo, visitou um dos pilares do Islã, o
grão-mestre da mesquita de al-Azhar, al-Suyüti, de quem recebeu conselhos sobre
a arte de governar. Adquiriu uma. concessão em Meca para abrigar os peregrinos
do Sudão e obteve do xerife de Meca o título de califa do Sudão, as insígnias
do novo poder, assim como o envio a seu império de embaixador, o xerife
al-Sakli. Voltou ao Sudão legitimado na fé muçulmana e com seu poder
universalmente consagrado.
O Askiya Muhammad deu continuidade à obra de Sunni 'Ali Ber.
Auxiliado pelo irmão 'Omar Komdiãgho, expandiu o império em todas as
fronteiras. Dominou as regiões de Macina e de Zara (Diara) onde, em 1512, foi
morto Tenguella (Tonguella), sucedido pelo filho Koly Tenguella. Tornou-se
senhor do Saara até as minas de Teghazza, conquistou Agadez e as cidades haussa
de Katsina e Kano. No entanto, as incursões contra os povos do sul - os Bariba,
os Mossi e os Dogon - não foram bem-sucedidas. Graças a suas conquistas,
consolidou o Império Songhai, expandindo-o a seus limites máximos, de Dendi à
Sibiridugu, ao sul de Segu, e de Teghazza à fronteira de Yatenga.
O askiya organizou o império conforme a tradição herdada de
Sunni 'Ali. Para o cargo de kurmina fari, nomeou o irmão 'Omar Komdiagho, que
construiu uma capital inteiramente nova, Tendirma. Criou, ainda, outras
províncias, substituiu os funcionários de Sunni 'Ali por homens que lhe eram
fiéis, além de nomear cádis para todas as cidades muçulmanas. Também
reorganizou a corte e o conselho imperial, estabelecendo hierarquias e o
protocolo, distribuindo as tarefas palacianas entre seus vários servidores e
instituindo normas para os ulemás e os cádis da corte.
O Askiya Muhammad foi um soberano esclarecido que se
interessou por todas as atividades do império. Além de ter encorajado o
comércio, que muito enriqueceu o país, esforçou-se por estabelecer e controlar
a utilização de instrumentos de medida, por garantir a pronta aplicação da justiça
pelos cádis e por assegurar a ordem nos negócios, criando, para isso, um corpo
de inspetores de mercado. Teria construído um canal na região de
Kabara-Tombuctu 14. Incentivou a agricultura criando numerosas colônias de
cultivo, povoadas de escravos trazidos das guerras e, principalmente,
diminuindo os impostos pagos sobre os produtos agrícolas. Favoreceu, ainda, o
desenvolvimento dos estudos, distribuindo presentes e pensões aos ulemás, e,
sobretudo, cercando-os de respeito. No entant.o, o soberano sofreu o infortúnio
de ter muitos filhos e permanecer por muito tempo no poder. Velho e cego, foi
derrubado por uma conspiração dos filhos, liderados pelo primogênito, o fari
mondzo (ministro das terras) Müsã, que foi proclamado askiya em 1528.
Os sucessores do Askiya Muhammad
Os filhos do Askiya Muhammad sucederam-se no poder até 1583:
Müsã (1528-1531), Muhammad II Benkan Kiriai (1531-1537), Ismã'il (1537-1539),
Ishak I (1539-1549), Dãwud (1549-1583). Em seguida, a sucessão passou para os
filhos de Dãwud: al-Hadj Muhammad III (1583-1586), Muhammad IV (1586-1588),
Ishak II (15-s-8-1591) e Muhammad Gao (1592). Não tendo, de fato, mais o que
conquistar, faziam incursões aos países limítrofes. No plano interno, a curva
do Níger assistiu, mais de uma vez, a sangrentas crises de sucessão. No
exterior, surge novo problema, o das minas de sal de Teghazza, O qual
envenenaria as relações com os sultões do Marrocos. Examinaremos estes
problemas nos três principais reinados.
Ishak I (1539-1-549) 15 é descrito nos Ta'rik como príncipe
autoritário, que impunha obediência. Seu irmão Dãwüd liderou uma incursão
contra a capital do Mali para pilhá-la. Foi no reinado de Ishak I que veio à
tona a questão de Teghazza: o sultão do Marrocos, o sa'di Muhammad al-shaykh
reivindicou o direito de propriedade sobre as minas de sal, mas fracassou na
tentativa de ocupá-las; Ishak I reagiu, organizando os cavaleiros tuaregues
para invadir o Dra (Dar'a) marroquino 16.
Dãwüd (1549-1583), filho do Askiya Muhammad I, teve um reinado longo e próspero, que correspondeu ao florescimento do Império Songhai. Os Ta'rik descrevem o askiya Dãwüd como príncipe inteligente, astuto, aberto a tudo, amigo dos letrados. Sua grande experiência nos negócios e no trato com as pessoas decorria do fato de ter exercido vários cargos políticos e de se ter envolvido nas questões surgidas nos reinados dos irmãos.
Dãwüd (1549-1583), filho do Askiya Muhammad I, teve um reinado longo e próspero, que correspondeu ao florescimento do Império Songhai. Os Ta'rik descrevem o askiya Dãwüd como príncipe inteligente, astuto, aberto a tudo, amigo dos letrados. Sua grande experiência nos negócios e no trato com as pessoas decorria do fato de ter exercido vários cargos políticos e de se ter envolvido nas questões surgidas nos reinados dos irmãos.
O império alcançou o apogeu durante o reinado do askiya
Dãwiid, prosperando econômica e intelectualmente. O vale do rio foi
intensamente cultivado e as grandes cidades de comércio mostraram-se mais'
ativas do que nunca. Era a época em que as caravanas transaarianas suplantavam
as caravelas atlânticas, conforme narra V. M. Godinho 17. A prosperidade geral
trouxe grandes lucros ao askiya, que chegou a amealhar um tesouro com o
numerário proveniente das taxas sobre o comércio e as terras imperiais. Seus
armazéns recebiam milhares de toneladas de cereais recolhidos através do
império. Como o pai, Dãwud foi grande mecenas. Honrou os homens de letras,
cumulando-os de consideração e presentes. Contribuiu para a restauração de
mesquitas e para o sustento dos pobres.
No plano militar, o askiya promoveu inúmeras campanhas de
pacificação na região de Macina e a leste, combatendo principalmente os Mossi.
O litígio em torno de Teghazza continuava a ser o problema mais grave. O sultão
do Marrocos, Mülay Ahmad al-Mansur, insistia em reivindicar as minas. Ao que
parece, chegou-se a um acordo pelo qual eram preservados os direitos e
propriedades songhai. No entanto, uma expedição marroquina ocupou as minas
durante o reinado do askiya al-Hadj Muhammad III (1583-1586). Os tuaregues
passaram a explorar Tenawdãra (Taud'eni), situada 150 quilômetros ao sul de
Teghazza, que logo caiu em ruínas.
Com a morte de Muhammad III em 1586, seu irmão Muhammad IV
Bano foi proclamado askiya, fato que terminou por originar uma guerra civil.
Muitos irmãos do askiya revoltaram-se, entre eles o balamo da região de
Tombuctu, al-Saddik. Liderando as forças de Kurmina e das províncias
ocidentais, al-Saddik -marchou sobre Gao em 1588. Proclamado askiya em
Tombuctu, foi, porém, derrotado pelo novo askiya de Gao, Ishak II, que reprimiu
cruelmente a rebelião e dizimou os exércitos ocidentais. O império se viu,
assim, moralmente cindido. A região ocidental, decepcionada, perdeu o interesse
por Gao, e muitos príncipes songhai aliaram-se sem dificuldade aos invasores
marroquinos em 1591, três anos após a guerra civil. O Império Songhai iria,
assim, desmoronar, vítima das próprias contradições.
A civilização songhai
Organização política e administrativa
O Império Songhai foi profundamente original quanto à
organização política e administrativa. A forte estruturação do poder, a
centralização sistemática e o absolutismo real são características que
atribuíram uma coloração moderna à monarquia de Gao, distinguindo-a do sistema
tradicional de federação de reinos, vigente nos impérios de Gana e do Mali.
A monarquia
A monarquia de Gao sob os askiya, herdeira de longa tradição
de governo, fundava-se nos valores islâmicos e consuetudinários. Segundo os
antigos costumes sudaneses e songhai, o toi (rei) era o pai do povo, dotado de
poderes semi-sagrados, fonte de fecundidade e prosperidade. Quem dele se
aproxi- masse, tinha de se prostrar em sinal de veneração. Já a tradição islâmica
estipulava que o monarca de Gao, muçulmano desde o século XI, devia governar
segundo os preceitos do Corão. Estas duas tradições combinavam-se dependendo da
personalidade do soberano, predominava uma ou outra. Askiya Muhammad I e o
askiya Dãwüd apoiaram-se no Islã; Sunni 'Ali e maioria dos outros askiya foram
mais songhai do que muçulmanos.
O imperador residia em Gao, cercado de numerosa corte, a sunna, que compreendia membros da família, grandes dignitários e griots Guesere e Mabo. Sentava-se numa espécie de estrado, rodeado de setecentos eunucos. O griot Wandu atuava como arauto. Inúmeros serviçais, geralmente escravos, realizavam as diversas tarefas domésticas, dirigidos pelo hu hokoroy koy, mordomo-mor do palácio. O encarregado do guarda-roupa cuidava do vestuário 18.
O imperador residia em Gao, cercado de numerosa corte, a sunna, que compreendia membros da família, grandes dignitários e griots Guesere e Mabo. Sentava-se numa espécie de estrado, rodeado de setecentos eunucos. O griot Wandu atuava como arauto. Inúmeros serviçais, geralmente escravos, realizavam as diversas tarefas domésticas, dirigidos pelo hu hokoroy koy, mordomo-mor do palácio. O encarregado do guarda-roupa cuidava do vestuário 18.
Com a morte do soberano, sucedia-lhe o irmão mais velho. De
fato, decidia-se a sucessão pela força, daí as crises periódicas. O novo askiya
era proclamado pela sunna e entronizado na antiga capital de Kukya.
O governo era constituído por ministros e conselheiros nomeados, que podiam ser demitidos pelo askiya, e obedeciam a uma hierarquia segundo a sua função. Pode-se distinguir o governo central do askiya e o das províncias.
O governo era constituído por ministros e conselheiros nomeados, que podiam ser demitidos pelo askiya, e obedeciam a uma hierarquia segundo a sua função. Pode-se distinguir o governo central do askiya e o das províncias.
O governo central
Os funcionários do governo central formavam o conselho
imperial, que debatIa todos os problemas do império. Um secretário-chanceler
redigia as atas do conselho, tratava da correspondência do soberano, da redação
e da execução de suas leis. Outros funcionários, cujas tarefas são mais ou
menos conhecidas, cuidavam dos vários departamentos administrativos. Não havia
propriamente especialização de funções. Os Ta'ríkh fornecem a lista de
dignitários do poder central, sendo os principais 19.
O hi koy era o "senhor da água", o chefe da flotilha. Sua função era das mais antigas e importantes, em virtude do papel do Níger na vida dos antigos Songhai. O hi koy tornou-se um dos mais altos dignitários da corte, uma espécie de ministro do Interior, que dirigia os governadores das províncias. Desta maneira entende-se, sob o reinado do askiya Ishak I, que o hi koy repreenda o príncipe Dãwüd, governador de Kurmina, ordenando-lhe que volte imediatamente à sua província.
O hi koy era o "senhor da água", o chefe da flotilha. Sua função era das mais antigas e importantes, em virtude do papel do Níger na vida dos antigos Songhai. O hi koy tornou-se um dos mais altos dignitários da corte, uma espécie de ministro do Interior, que dirigia os governadores das províncias. Desta maneira entende-se, sob o reinado do askiya Ishak I, que o hi koy repreenda o príncipe Dãwüd, governador de Kurmina, ordenando-lhe que volte imediatamente à sua província.
O fari mondzo ou mondio era o ministro da Agricultura. É
possível que dirigisse as numerosas propriedades imperiais espalhadas pelo
país, grandes fontes de renda. Sua função, muito importante, era geralmente
confiada a príncipes de sangue, senão ao príncipe herdeiro. Com certeza,
competia também ao fari mondzo resolver conflitos de terra. O hari farma, inspetor
das águas e lagos, o saw farma, inspetor das florestas e o waney farina,
encarregado das propriedades, desempenhavam funções semelhantes.
O kalissa farma (ministro das Finanças) tem uma função mal definida nos Ta'rík; devia estar ligada à tesouraria imperial. Sabe-se que os askiya eram muito ricos, e que suas rendas em espécie ou dinheiro eram centralizadasem
Gao. O kalissa farma cuidava da guarda do tesouro e
controlava as despesas do soberano. O numerário em moedas constituído pelo
askiya Dãwud estava, sem dúvida, sob a responsabilidade de um desses
funcionários. O kalissa farma era auxiliado pelo waney farma, senhor dos bens,
pelo bana farma, encarregado dos salários, e pelo doy farma, chefe de compras.
O balama desempenhava funções militares, embora os Ta'rik não as descrevam com precisão. Em tempos antigos, o balama era chefe do exército. O cargo deve ter perdido importância no século XVI, quando não há menção do balama à frente dos exércitos imperiais. O balama tornou-se chefe de um corpo de exército estacionado na região de Kabara-Tombuctu, com certeza sob a jurisdição do kurmina fari. Ao que parece, a função era reservada a príncipes de sangue. Embora não haja referências nos Ta'rik, é possível que para a administração do império, Gao possuísse outros departamentos. Pode-se mencionar o korei farma, ministro encarregado dos estrangeiros brancos, e os comissários imperiais, que o imperador enviava periodicamente às províncias para resolver problemas urgentes, arrecadar impostos extraordinários dos comerciantes das grandes cidades ou fiscalizar os funcionários e administradores das províncias.
O kalissa farma (ministro das Finanças) tem uma função mal definida nos Ta'rík; devia estar ligada à tesouraria imperial. Sabe-se que os askiya eram muito ricos, e que suas rendas em espécie ou dinheiro eram centralizadas
O balama desempenhava funções militares, embora os Ta'rik não as descrevam com precisão. Em tempos antigos, o balama era chefe do exército. O cargo deve ter perdido importância no século XVI, quando não há menção do balama à frente dos exércitos imperiais. O balama tornou-se chefe de um corpo de exército estacionado na região de Kabara-Tombuctu, com certeza sob a jurisdição do kurmina fari. Ao que parece, a função era reservada a príncipes de sangue. Embora não haja referências nos Ta'rik, é possível que para a administração do império, Gao possuísse outros departamentos. Pode-se mencionar o korei farma, ministro encarregado dos estrangeiros brancos, e os comissários imperiais, que o imperador enviava periodicamente às províncias para resolver problemas urgentes, arrecadar impostos extraordinários dos comerciantes das grandes cidades ou fiscalizar os funcionários e administradores das províncias.
O governo das províncias
Os Songhai adotaram dois sistemas de governo, de acordo com o
território em questão.Um primeiro grupo compreendia as províncias conquistadas,
governadas por chefes nomeados e demissíveis a qualquer momento pelo askiya.
Estes governadores, hierarquizados, exerciam o poder soberano - exceto a
justiça, confiada aos cádis. Eram intitulados fari, farma ou farba, nomes
derivados da instituição manden farin. O Império do Mali havia instituído farin
(governadores) na curva do Níger, e Sunni 'Ali e os askiya deram continuidade à
função e ao título. O koy (chefe) era uma instituição songhai de menor
importância, assim como o mondzo, título que se aplicava tanto ao funcionário
de uma localidade (Tombuctu mondzo) quanto ao de um departamento ministerial
(fari mondzo). Nada sabemos sobre os títulos de cha, marenfa e outros.
O império era dividido em duas grandes províncias: Kurmina a oeste e Dendi a sudeste. A função do kurmina fari ou kanfari era exercida, com raras exceções, por príncipes de sangue, muito freqüentemente pelo próprio príncipe herdeiro 20. O kurmina fari habitava Tendirma, aparecendo como o segundo personagem em importância do Estado. Não se conhecem com certeza os limites de sua jurisdição; ao que parece, dirigia todas as províncias a oeste de Tombuctu. Isso carece, porém, de confirmação, já que os governadores da região eram nomeados por Gao e subordinados ao askiya. Por volta do final do século XVI, o kurmina fari tornou-se o verdadeiro chefe de todas as províncias do oeste, impondo-se pelo seu poderio militar. De fato, dispunha de poderoso exército que, com cerca de 4 mil homens, era capaz de contrabalançar as forças de Gao, conforme ficou patente em várias ocasiões.
O império era dividido em duas grandes províncias: Kurmina a oeste e Dendi a sudeste. A função do kurmina fari ou kanfari era exercida, com raras exceções, por príncipes de sangue, muito freqüentemente pelo próprio príncipe herdeiro 20. O kurmina fari habitava Tendirma, aparecendo como o segundo personagem em importância do Estado. Não se conhecem com certeza os limites de sua jurisdição; ao que parece, dirigia todas as províncias a oeste de Tombuctu. Isso carece, porém, de confirmação, já que os governadores da região eram nomeados por Gao e subordinados ao askiya. Por volta do final do século XVI, o kurmina fari tornou-se o verdadeiro chefe de todas as províncias do oeste, impondo-se pelo seu poderio militar. De fato, dispunha de poderoso exército que, com cerca de 4 mil homens, era capaz de contrabalançar as forças de Gao, conforme ficou patente em várias ocasiões.
O dendi fari, governador da província de Dendi,
supervisionava toda a região dendi, ou seja, a parte sudeste do império. Era o
terceiro personagem em importância do Estado; o titular era geralmente grande
dignitário da corte. Seu exército devia ser pouco mais modesto que o de
Kurmina, tendo por função defender as fronteiras meridionais do império. As
províncias secundárias eram governadas por chefes nomeados pelo askiya: o hora
koy, o dirma koy, o hombori koy, o arabinda forma, o benga forma, o kala cha e
o baghena forma, que perdera seu título de askiya.
As cidades de comércio, como Tombuctu, Djenné, Teghazza e Walata, gozavam de certa autonomia sob o governo de seus koy ou mondzo. As atividades comerciais e artes anais e a grande população requeriam a presença de muitos funcionários administrativos. Assim, em Tombuctu, além do cádi encarregado da justiça e do Tombuctu koy, chefe da cidade, havia extenso quadro de funcionários: o asara mondzo, espécie de comissário responsável pelo poli Clamento dos mercados e pela execução das sentenças do cádi, os inspetores de pesos e medidas, os coletores de impostos dos mercados, os inspetores alfandegários de Kabara, os mestres de diversas profissões, os chefes das diversas subdivisões de etnias - agrupadas por bairros - e os comissários das cabanas dos subúrbios. Este pessoal formava o núcleo de uma administração eficaz nas grandes cidades.
As cidades de comércio, como Tombuctu, Djenné, Teghazza e Walata, gozavam de certa autonomia sob o governo de seus koy ou mondzo. As atividades comerciais e artes anais e a grande população requeriam a presença de muitos funcionários administrativos. Assim, em Tombuctu, além do cádi encarregado da justiça e do Tombuctu koy, chefe da cidade, havia extenso quadro de funcionários: o asara mondzo, espécie de comissário responsável pelo poli Clamento dos mercados e pela execução das sentenças do cádi, os inspetores de pesos e medidas, os coletores de impostos dos mercados, os inspetores alfandegários de Kabara, os mestres de diversas profissões, os chefes das diversas subdivisões de etnias - agrupadas por bairros - e os comissários das cabanas dos subúrbios. Este pessoal formava o núcleo de uma administração eficaz nas grandes cidades.
Administração indirecta
A administração indireta concernia aos países vassalos ou
tributários. O chefe do território era nomeado segundo os costumes locais e
reconhecido pelo askiya. Disputas entre os pretendentes ou rebeliões contra a
autoridade imperial, no entanto, aconteciam. Neste caso, o askiya intervinha e
impunha seu candidato. Dessa forma, o fondoko da região de Macina, Bubu
Mariama, foi destronado pelo askiya al-Hadj Muhammad III, que o exilou em Gao
21. Os Estados haussa - Kano e Katsina -, o reino de Agadez, o Império do Mali
22, a federação tuaregue Kel Antessar (os Andassen de al-Sa'di'), a de
“Magcharen" 23 (tuaregues de origem Sanhadja da região de Tombuctu-Walata)
agrupavam-se nessa categoria, sendo mais ou menos tributários, de acordo com a
orientação política de Gao. Seus soberanos deviam pagar tributos periódicos,
enviar contingentes de guerreiros quando o imperador pedisse e manter boas
relações com Gao através de visitas, presentes e casamentos.
Com estes vários sistemas de administração - o central, o
provincial e o indireto, o Império de Gao conseguiu organizar as populações do
Sudão nigeriano, manter pessoas e bens em segurança e alcançar grande
desenvolvimento econômico. A monarquia dos askiya foi um poder estruturado e
impessoal, enraizado em valores songhai e islâmicos, que triunfou em diversas
crises dinásticas. Se não houvesse sido debilitada pela conquista marroquina,
poderia ter evoluído para uma forma de Estado.
As grandes instituições do Estado
O Estado dispunha de importantes recursos para se consolidar
e permanecer independente, e de uma força armada permanente, capaz de proteger
o império, impor a vontade do soberano a seus súditos e dominar qualquer
rebelião. Este aparelho de Estado, poderoso e estável, não era, no entanto,
despótico. A justiça, confiada a cádis quase autônomos ou a chefes
consuetudinários, preservava a liberdade e os direitos do povo. O estudo das
engrenagens do Estado põe em evidência a modernidade do Império Songhai, o qual
herdou longa tradição guerreira. Os Songhai não eram camponeses ou
comerciantes, mas guerreiros:
"Os grandes homens do Songhai", escreveu Mahmud Ka'ti, "eram versados na arte da guerra. Eram bravos e audaciosos e conheciam os ardis da guerra" 24.
A nobreza tinha vocação para as funções políticas e militares. Constituía a parte essencial da cavalaria, ponta-de-lança do exército songhai. Armados de longas lanças, sabres e flechas, os cavaleiros songhai usavam armaduras de ferro sob suas túnicas de guerra. Como os cavalos custavam muito (valiam cerca de dez escravos no século XVI), à cavalaria pertencia uma elite privilegiada. A unidade mais numerosa era a infantaria, que reunia homens de todas as camadas sociais: escravos, baixa nobreza, homens livres etc. Como armas, utilizavam lanças, flechas e escudo de couro ou cobre. Os pescadores do Níger, principalmente os Sorko, constituíam uma flotilha permanente no rio, de mais de 2 mil pirogas. O exército levava estandartes e longas trombetas, os kakaki, seguia uma ordem de marcha e, no combate, procedia à formação em leque.
Ignoram-se os verdadeiros efetivos do exército. As reformas dos askiya Muhammad I e Muhammad II Benkan aumentaram o exército permanente de Gao para 4 mil homens, sem contar os 300 guerreiros da guarda pessoal do soberano, a sunna 25. Em sua maioria, os soldados eram escravos do askiya, que lhes herdava os bens e podia desposar suas filhas. O exército completo, reunido em 1591 na batalha de Tondibi, contava 30 mil soldados de infantaria e 10 mil cavaleiros. Era a maior força organizada do Sudão ocidental; permitiu que o askiya impusesse sua vontade e trouxe-lhe substanciais butins de guerra.
CONCLUSÃO
Depois de algumas
investigações sobre o império Songhai concluímos que o império Songai foi um antigo reino da África Ocidental que se
estendia pelas margens do Níger. Foi fundado por um chefe berbere da Líbia, Za
el-Ayamen, no século VII na região de Gao, ao fugir dos árabes, tendo-se
estabelecido em Kukia (a sul de Gao) e impondo a sua autoridade às populações
autóctones, pescadores e caçadores.
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